Acontece nesta quarta-feira, às 19h, no Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, a aula inaugural do primeiro curso de Psicologia do Brasil pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). A primeira turma reúne 47 jovens e adultos não apenas residentes no estado de Mato Grosso, mas também em outras unidades federativas nas cinco regiões do país. As 69 inscrições tiveram candidaturas de estados como Piauí, Ceará, Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, São Paulo, Minas Gerais, Pará, Rondônia, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O Pronera forma estudantes jovens e adultos que moram em assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), acolhendo ainda quilombolas, docentes e educadores que exerçam atividades educacionais voltadas às famílias beneficiárias, além de pessoas atendidas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). O curso de Psicologia pelo Pronera atende a uma demanda urgente por profissionais qualificados no meio rural, mas também representa mais um passo na garantia de direitos sociais e educacionais para uma população que tem sido historicamente marginalizada.
Para Itelvina Maria Masioli, de 61 anos, que compõe a direção e o coletivo de formação do Movimento Sem Terra em Mato Grosso, além da Coordenação Política Pedagógica do curso de Psicologia ofertado pelo Pronera na UFMT, a importância da iniciativa está na necessidade de formar profissionais capacitados para compreender e atuar nas complexas realidades sociais e psicológicas enfrentadas pelas populações rurais, especialmente os assentados da reforma agrária. “A educação no campo tem sido historicamente negligenciada, resultando em altos índices de analfabetismo e falta de acesso a direitos sociais básicos, como a educação de qualidade. Além disso, a saúde mental da população rural é uma questão crítica, agravada pelo isolamento, dificuldades de acesso aos serviços de saúde e os impactos do uso intensivo de agrotóxicos, que afetam tanto a saúde física quanto mental”, explica.
O pioneirismo do curso de Psicologia proposto pelo Pronera se dá também diante da urgência de abordagem da saúde mental no campo. “Esses psicólogos estarão preparados para lidar com as demandas sociais e psicológicas únicas dessas comunidades, como o atendimento em escolas, cooperativas, espaços comunitários, entre outros. Espera-se que a formação desses profissionais possa auxiliar na promoção de integração social, no desenvolvimento intelectual e na saúde mental dos assentados, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a redução das disparidades sociais no campo”, declara Masioli. Ela também destaca que a UFMT não será a única a construir uma “Psicologia com o povo, articulada às suas necessidades e demandas”, movimento feito em vários territórios no Brasil.
Indaiá Witcel Rubenich, 20 anos, de Santa Quitéria-CE, é uma das aprovadas no curso. Para ela, “participar dessa primeira turma nacional é de uma grande importância! Vindo do Ceará, um estado bem longe, acarreta muitas responsabilidades para nós. Para além de ser uma responsabilidade pessoal, também é uma responsabilidade do Movimento Sem Terra, de ocupação da universidade federal”. A graduanda ressalta também a necessidade que pessoas assentadas e acampadas têm de profissionais da psicologia: ainda que existam muitos profissionais, a formação do problema permite uma abordagem específica que trate da raiz dos problemas nas comunidades rurais.
Vinda de muito longe também, Auciêne dos Santos Lima, de 25 anos, saiu de Nova Santa Rita, região metropolitana de Porto Alegre-RS, para estudar Psicologia na UFMT. A expectativa é de promover mais saúde mental em comunidades como a dela, apesar da ansiedade em começar esse novo momento. “Vir pra cá está sendo um desafio muito grande. A gente sai do nosso conforto, da nossa casa, vindo para um estado tão longe, para fazer um curso que a gente tanto sonha e espera fazer, trazendo para lá uma saúde mental para as pessoas, para que possam se aceitar e viver com a tranquilidade que a gente busca, com saúde mental”, afirma.
Itelvina fala também da expectativa de “formar estudantes que possam contribuir de forma significativa com os assentamentos em seus processos organizativos, comunitários, institucionais, nas cooperativas, nos espaços e equipamentos educacionais e de saúde, nos setores e coletivos, ou seja, que eles possam utilizar os conhecimentos da área da Psicologia para avançar em seus processos de construção de uma vida melhor no campo”. Outro diferencial das turmas do Pronera é que o processo ensino-aprendizagem deve ter uma ligação com a realidade onde estudantes se inserem, de modo que não sejam apenas objetos de estudos e pesquisas. “em uma perspectiva geral é possível apontar que as turmas do Pronera têm um maior compromisso na participação e condução do curso em que estão inseridas”, finaliza a coordenadora.
Via | Assessoria
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