Boom de diagnósticos neuropsicológicos desafia processo de inclusão nas escolas
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Boom de diagnósticos neuropsicológicos desafia processo de inclusão nas escolas

Desinformação e laudos precoces estão entre os obstáculos enfrentados pelos educadores
“Nunca recebemos tantas crianças com diagnóstico ou suspeita de transtornos neuropsicológicos como agora”. Essa é a percepção de Caroline Brand, coordenadora da Escola Interpares, que atende alunos da educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental, em Curitiba. Segundo a escola, antes da pandemia houve um boom de diagnósticos de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Já durante a pandemia, na reabertura das escolas, cresceu a investigação de transtorno do espectro do autismo (TEA) entre os alunos. Posteriormente, veio a enxurrada de laudos indicando a condição de altas habilidades (mais conhecida como superdotação) e, segundo Brand, espera-se que o próximo transtorno a se tornar comum é o transtorno opositor desafiador (TOD). A neuropsicóloga Mariana Abuhamad, da clínica Cognos, também de Curitiba, explica o fenômeno. “Temos visto uma busca frequente dos pais para esclarecer problemas relacionados ao controle emocional das crianças”. Ela cita, entre os diagnósticos mais comuns, os de altas habilidades, TEA, TDAH, além de transtornos de ansiedade e de aprendizagem. Em relação ao que muitos classificam como “transtornos da moda”, Mariana faz um alerta: existem, sim, muitos diagnósticos fechados precocemente. “Acreditamos que as mídias, incluindo as redes sociais, contribuem negativamente para a desinformação sobre os transtornos do neurodesenvolvimento, definindo como patologia traços que podem ser naturais do ser humano, características que nos definem”. Mariana explica que muitos sintomas podem ter relação com diferentes quadros diagnósticos. “Mas são poucos clínicos que vão além da superfície. Muitos sintomas, como irritabilidade e agressividade, podem ser apenas expressões de necessidades emocionais não atendidas”, exemplifica. A pandemia, segundo ela, também resultou em efeitos colaterais, como medo e estresse. “As crianças sentiram tudo isso. Suas rotinas foram modificadas drasticamente, sem tempo para adaptações. E sabemos hoje que o estresse é um importante modulador do desenvolvimento infantil”, conta a neuropsicóloga da Cognos. De acordo com a profissional, muito recentemente o Brasil enfrenta em igual intensidade dois problemas opostos: muitos diagnósticos precipitados e muitos transtornos negligenciados. “Vejo que os pais de hoje são mais atentos ao desenvolvimento dos filhos, o que os leva a procurarem precocemente por ajuda, permitindo que crianças com desenvolvimento atípico recebam tratamento necessário dentro do tempo. Porém, também vemos uma sociedade adoecida pelas condições de trabalho e dificuldades de relações interpessoais, como possível resultados da intermediação da tecnologia”. Inclusão escolar Para a coordenadora da Interpares, toda criança tem alguma necessidade de inclusão. “Aqui na escola, todos os alunos são observados com atenção. Crianças não diagnosticadas com qualquer tipo de transtorno também podem ter necessidades específicas de estímulos, como de socialização, de alimentação, de expressão”, relata Caroline. Segundo ela, é um erro separar o projeto educacional entre alunos regulares e alunos de inclusão. “Todos têm suas necessidades. O que acontece é que crianças que estão sendo acompanhadas, que estão em avaliação ou têm um transtorno diagnosticado precisam de uma intensidade maior em alguns campos de estimulação, sem precisarem ser segregadas por isso”, opina. A coordenadora elenca os pilares da escola para realizar esse trabalho: · Nosso primeiro passo é observar o comportamento de todos os alunos, não apenas os que chegam com laudo aberto ou diagnóstico fechado · O segundo passo é conhecer a fundo o contexto de vida desse aluno: como é sua rotina, sua moradia, sua relação com a família. Muitos comportamentos se explicam já nesse momento · O terceiro passo é estimular o aluno naquilo em que observamos alguma defasagem de desenvolvimento, tenha ele um transtorno diagnosticado ou não · Em seguida, avaliamos a evolução da criança e também se houve alguma estagnação ou dificuldade em evoluir. Se isso aconteceu, encaminhamos para uma equipe multidisciplinar, para avaliação e recomendações · Diante da abertura de um laudo ou diagnóstico fechado, passamos a integrar essa equipe multidisciplinar, como escola, para colaborar da melhor forma possível, seguindo as recomendações e trocando informações periodicamente com todos os profissionais envolvidos no processo, além da própria família “A responsabilidade de concluir diagnósticos é da equipe de saúde multiprofissional, mas a escola tem o dever de conhecer as características das condições atípicas do desenvolvimento, para ser capaz de identificar quais as crianças precisam desse encaminhamento”, acrescenta Mariana. Aos pais, a neuropsicóloga deixa um recado: “Procurem bons profissionais. Não se apeguem ao que encontrarem em fontes de informação não científicas. Há muita desinformação hoje em dia, especialmente nas redes sociais”.
Via | Assessoria   Foto | Divulgação

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