Meirelles e Alckmin contabilizam despesas de mais de R$ 40 milhões cada, enquanto Cabo Daciolo desembolsou pouco mais de 700 reais. Confira a prestação de contas parcial dos presidenciáveis.
Seria preciso juntar o vencimento mensal de 137 mil trabalhadores brasileiros que recebem salário mínimo (R$ 954) para pagar o que os presidenciáveis declararam, até o momento, como despesa de campanha. Foram R$ 130,7 milhões direcionados, principalmente, para pagar a produção de programas de rádio, televisão e vídeos para a internet. Entre os maiores gastadores destacam-se Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB), que já desembolsaram pouco mais de R$ 40 milhões cada. O que menos gastou até agora foi Cabo Daciolo (Patriota), pouco mais de 700 reais dos R$ 9,1 mil que arrecadou.
Cada candidatura à presidência pode, segundo a lei, gastar até R$ 70 milhões no primeiro turno das eleições. Na hipótese de seguir adiante na disputa, as despesas no segundo turno não podem ultrapassar R$ 35 milhões. Os candidatos têm até 30 dias após o pleito para entregar ao Tribunal Superior Eleitoral a prestação final de contas. Durante a campanha, a Justiça Eleitoral solicita o envio de duas prestações parciais.
Henrique Meirelles (MDB) é o candidato que mais dinheiro do próprio bolso tirou para sustentar sua própria campanha. Até agora, ele investiu R$ 45 milhões. Essa também foi a única fonte de recursos da campanha do emedebista. A maior despesa dele foi com a produção de programas de rádio, televisão ou vídeo, R$ 24,7 milhões, o que equivale quase 60% do dinheiro investido até agora com a campanha. Outra despesa que chama a atenção é a quantia referente à criação e inclusão de páginas na internet, R$ 5,8 milhões. O valor ultrapassa, inclusive, a despesa com adesivos (R$ 3,2 milhões).
No ranking de despesas de Geraldo Alckmin (PSDB) destacam-se os programas de rádio e televisão (R$ 15,2 milhões) e a publicidade por materiais impressos (R$ 6,8 milhões). O candidato também declarou como despesa doações financeiras de sua campanha a outros candidatos (R$ 14,6 milhões). Despesas com transporte e deslocamento atingiram, até o momento, os R$ 2,5 milhões.
O maior doador do tucano é a direção nacional do partido, responsável por 99,5% do financiamento da campanha. A quantia repassada chegou a R$ 50,7 milhões.
Apesar de sua candidatura ter sido impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral, no período em que esteve oficialmente como candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva recebeu recursos para campanha (R$ 20,5 milhões) e contraiu despesas (R$ 19,1 milhão), a maioria dela (70%) com a produção de rádio, televisão ou vídeo (R$ 13,5 milhões). Já seu substituto na chapa, Fernando Haddad (PT), declarou ter gasto até agora apenas R$ 738 mil dos R$ 21,7 milhões disponíveis na conta da campanha. A maior despesa contratada até o momento foi com o impulsionamento de conteúdos nas redes sociais, R$ 450 mil.
Ciro Gomes (PDT) quase empata com os petistas Lula e Haddad na arrecadação de recursos: tem R$ 21,1 milhões na contas da campanhas. Gastou até agora R$ 8,3 milhões, principalmente na impressão de materiais (R$ 2,4 milhões) e na produção de programas eleitorais (R$ 2,2 milhões). A confecção de adesivos custou R$ 829 mil. O maior doador da campanha (99% da receita) é o próprio partido do candidato.
O primeiro colocado nas últimas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL), contratou até o momento mais despesas do que a quantidade de recursos de receita disponíveis. Isso não quer dizer que a candidatura esteja devendo a fornecedores, mas que o valor das despesas contratadas (R$ 1,1 milhão) ultrapassa o de recursos recebidos para a campanha (R$ 998 mil). Desse valor, R$ 240 mil foram direcionados para a produção de programas de TV e rádio.
Quanto às despesas de Álvaro Dias (Podemos), mais de 80% refere-se à produção de programas. A campanha desembolsou, até o momento, R$ 4,6 milhões com essa finalidade. Despesas com transporte ou deslocamento somam R$ 1 milhão. Assim como Bolsonaro, ele contratou mais despesas do que a quantidade de receitas disponível. Do total de R$ 5,2 milhões em recursos, já empenhou R$ 5,7 milhões.
O candidato que o maior patrimônio declarou ao Tribunal Superior Eleitoral no momento da candidatura (R$ 425 milhões) gastou até o momento R$ 887 mil dos mais de R$ 2,8 milhões que têm disponíveis. Entre as despesas de João Amoêdo (Novo) chama atenção o valor empregado no impulsionamento de conteúdo – as candidaturas do partido, em todos os níveis, estão entre as que mais investem em redes sociais. Amoêdo declarou, até o momento, ter desembolsado quase R$ 270 mil para impulsionar postagens no Facebook e Instagram.
Marina Silva (Rede) recebeu mais de 80% do dinheiro para sua campanha à presidência da direção nacional do partido. Ela declarou despesas com produção audiovisual (R$ 1,9 milhão), impressão de publicidade (R$ 581 mil) e pagamento de pessoal (R$ 494 mil). A dez dias do pleito, ela ainda tem disponível metade dos R$ 7 milhões que declarou, até agora, como receita.
Guilherme Boulos (PSOL) também figura no roll dos candidatos que recebeu da direção nacional do partido a maioria esmagadora do dinheiro para colocar sua campanha na rua. Do PSOL vieram 99,4% dos recursos recebidos, pouco mais de R$ 5,9 milhões. Entre as despesas está a produção de programas (R$ 890 mil), a impressão de publicidade (R$ 341 mil) e passagens aéreas (R$ 217 mil). A despesa com impulsionamento de conteúdo nas redes sociais está na casa dos R$ 200 mil.
Cabo Daciolo (Patriota) é o que menos gastou e também o que menos recursos arrecadou: apenas R$ 9,1 mil – segundo a declaração parcial, recebidos via financiamento coletivo. Os R$ 738,37 em despesas declarados pelo candidato referem-se à taxa de administração de financiamento coletivo. Já dos R$ 215 mil declarados por Eymael (PSDC) como contratação de despesas, R$ 131 mil foram depositados à empresa responsável pela gravação dos programas de televisão de rádio. O mesmo tipo de despesa é a principal de João Goulart Filho (PPS). Ele gastou R$ 137 mil com essa rubrica. Vera Lúcia Salgado (PSTU) arrecadou R$ 402 mil e gastou R$ 248 mil até o momento.
“Vaquinhas”
A análise parcial das receitas e despesas de campanha apresenta informações curiosas. Do total de receitas das campanhas eleitorais pelo país afora e considerando todos os cargos, pouco mais de 88% provém de recursos públicos. Isso quer dizer que R$ 4,7 bilhões chegaram às mãos das candidaturas via fundo eleitoral ou partidário. Apenas 11,9% derivam de doadores privados (R$ 573 milhões). A possibilidade de financiamento coletivo ou “crowdifung”, popularmente chamadas de “vaquinhas”, foram utilizadas em 10 dos 26 estados brasileiros e arrecadaram R$ 10 milhões para candidaturas postulantes a diferentes cargos (desde presidente até deputado estadual).
Entre os presidenciáveis, o que mais acumulou via financiamento coletivo não está mais na disputa. Quase R$ 600 mil foram arrecadados via vaquinha virtual para Lula. Bolsonaro computou R$ 541 mil; Amoêdo, R$ 400 mil; e Marina Silva, R$ 288 mil. Os demais receberam valores com 5 ou menos dígitos. Apenas Meirelles, Eymael e Haddad não declararam dinheiro oriundo de “vaquinhas” virtuais, que promovem a arrecadação de fundos via internet.
No Brasil, há diversos sites e empresas que promovem esse tipo de arrecadação, geralmente para pessoas comuns que têm um objetivo ou sonho, mas não o dinheiro para alcançá-lo. A nova modalidade para geração de receitas para campanhas foi incluída na reforma eleitoral de 2017 e estreou na prática apenas neste ano. Os sites que fazem o intermédio entre doadores e receptores do benefício tiveram que ser aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral para oferecer os serviços às campanhas.
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