Homem que morava em buraco em Várzea Grande se livra das drogas em tratamento oferecido a moradores de rua pela Prefeitura
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Homem que morava em buraco em Várzea Grande se livra das drogas em tratamento oferecido a moradores de rua pela Prefeitura

Os 30 anos de vício em drogas levou o instalador de som e acessórios para carro, Jairo Lazari, 51 anos, ao buraco, literalmente. Durante 10 meses ele viveu feito um “tatu”, morando dentro de uma boca de lobo, cuja tampa estava quebrada, na Avenida 31 de março, ao lado do Aeroporto Marechal Rondon e a poucos metros da Avenida da FEB.

Temendo convívio com outros moradores de rua, Jairo sempre optou em ficar sozinho, seja vivendo dentro do buraco ou no mato. Por três meses, ele morou em um matagal próximo à Concremax, no bairro Cidade Verde, em Cuiabá.

Fumante desde os 18 anos e viciado em drogas a partir dos 20 anos, ele chegou até o buraco na Avenida 31 de Março após anos oscilando com uso moderado a compulsivo pela droga. Por conta do vício, acabou o casamento, largou o trabalho, se afastou do filho e dos irmãos que são militares, sendo dois na Polícia Militar e um bombeiro.

Dentro do buraco, ele passava dias sem tomar banho e mal se alimentava em nome da droga. Contudo, o estado de saúde se agravou tanto que ele foi acometido com Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), limitando o fluxo de ar e dificultando a respiração.

“Eu dormi de joelhos, tentando respirar. Estava muito difícil, decidi sair do buraco e procurar o Centro Pop, eu estava muito mal. Aí me ofereceram o acolhimento aqui na Casa de Rogina, com tratamento para o vício em drogas. Se fosse como nas casas terapêuticas com orações forçadas eu não queria. Mas aqui o trabalho é sério e estou há 8 meses em tratamento”, contou Jairo.

Inaugurado pelo prefeito Kalil Baracat (MDB) em 30 de maio de 2022, a Casa de Acolhimento Rogina Marques de Arruda é um exemplo em Mato Grosso no tratamento para as pessoas em situação de rua.

Com capacidade de 25 pessoas, os moradores de ruas que aceitam tratamento ficam internados no local, passam pela assistente social e psicóloga da Casa e fazem tratamento com psiquiatra e fazem terapia no CAPS. Eles têm acesso à medicação, além de participar de rodas de conversa, ginástica laboral, sessões de cinema no local.

Em 2023, 99 homens em situação de rua passaram pela Casa de Rogina. Neste ano, até maio foram 43 atendidos. O coordenador do local, Fábio Reveles, explica que a média de permanência é de 3 a 6 meses, geralmente o período do tratamento. Alguns acabam se estendendo mais tempo, como Jairo, outros estão há até 4 anos como seo Rosalvo. Outros não suportam dois dias e abandonam o tratamento.

“Durante a pandemia, em 2020, foi aberta uma casa para acolher as pessoas em situação de rua. O seo Rosalvo é uma pessoa que estava em situação análoga ao trabalho escravo e foi levado para essa casa na época, no bairro Ouro Verde. Sem saber ler e escrever, ele tem um problema gravíssimo nos rins e não conseguimos localizar nenhum parente. Não podemos simplesmente mandá-lo embora. Estamos esperando-o entrar na terceira idade no ano que vem, para que possa ir para um abrigo de idosos”, comentou.

Recuperação e perfil dos moradores

Dentre os atendidos pela Casa de Rogina são raros os casos de quem foi parar nas ruas por desemprego ou perda de poder financeiro. As drogas são a porta de entrada da destruição da vida da pessoa. O álcool acaba sendo a consequência para continuar com as faculdades mentais entorpecidas.

“Infelizmente a maioria que sai, retorna para as drogas. São poucas as situações que a pessoa fez o tratamento e conseguiu viver limpo. É muito difícil para eles sozinhos, sem rede de apoio como tem aqui, permanecer no tratamento e não voltarem a se drogar ou a ingerir álcool”.

O ambiente da Casa de Rogina é controlado. Os internos recebem 4 refeições diárias, tem horário dos medicamentos, só saem acompanhados por um dos cuidadores para o atendimento médico e psicológico.

A psicóloga que atua na Casa, Luana Angel Soares de Moura, não faz terapia com eles, mas uma ação de acolhimento e acompanhamento do tratamento. Ela conta que busca também, com a autorização dos moradores, a se reconectar com os familiares.

“Quando entramos em contato, os familiares se sentem aliviados por eles estarem buscando tratamento. Alguns pensavam que a pessoa tinha até morrido”, diz.

O medo do mundo fora dos muros da Casa de Rogina é o temor de Jairo Lazari. Desde que começou a tratar do vício, o irmão dele policial militar se aproximou e passou a visitá-lo, assim como o filho. Contudo, ele tem ciência de que esse apoio é atrelado a abstemia. Se recair na droga, a família se afastará.

Com apoio da direção da Casa, Jairo conseguiu aposentadoria pela doença que possui e está guardando dinheiro. Ele passou a enviar recursos para que o irmão pudesse comprar as ferramentas para ele voltar a trabalhar com instalação de som automotivo.

“Penso em sair daqui em fevereiro, mas tenho medo porque Cuiabá e Várzea Grande lembram de mais o meu passado. Não sei como será lá fora, mas eu queria voltar a trabalhar. Já recebi cinco propostas de trabalho, isso porque ainda estou aqui”.

Fábio conta que houve muitos finais felizes também e que Jairo pode se inspirar neles. Um dos internos, ex-morador de rua, era professor de inglês. Após tratamento durante o período da internação e a continuação depois que saiu, junto ao CRAS, ele passou em um seletivo do Governo do Estado e agora é professor de uma escola estadual.

Outro era um escritor, que conseguiu ficar livre das drogas, e retornou para o Estado de São Paulo. Um outro ex-morador de rua também se tratou e agora mora na Irlanda, de onde manda notícias para o pessoal da Casa de Rogina, sobre a sua mudança de vida para melhor.

O Centro de Referência Especializado Para População em Situação de Rua (Centro Pop), está localizado na rua Senador Vicente Vuolo, nº 151, Centro Norte, Várzea Grande e o telefone é (65) 3685-3851.

Via | Assessoria Fotos | Maycol Entonny

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