“Ossinho” x Agronegócio: O abismo da fome e do lucro em Mato Grosso
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“Ossinho” x Agronegócio: O abismo da fome e do lucro em Mato Grosso

Mais um episódio, que exemplifica às duras penas a grave crise da fome e miséria no Brasil, veio à tona nas últimas semanas em todos os meios. Dessa vez foi em Cuiabá, a capital do milionário agronegócio brasileiro, onde um vídeo mostra que uma fila se forma na rua lateral de um açougue conhecido pelo preço “mais em conta”, onde centenas de pessoas esperam horas debaixo do sol quente, sentados na calçada, para a doação de “ossinho”, pedaços do processo de desossa do boi. Esses “ossinhos” são, efetivamente, o que servem como a única e, no momento, viável fonte de proteína da população mais carente. “É a maior felicidade a gente conseguir um ossinho aqui, porque está feia a crise! Eu estou desempregado e não tem para onde a gente recorrer. Faz tempo que eu não como carne, se não fosse o ossinho. Tudo está caro!”, conta Joacil Romão da Silva, de 57 anos. Mas erra quem diz que essa atitude do açougue começou agora, a ação da doação na capital já ocorre há mais de 10 anos. Mas, antes da pandemia, a fila reunia entre 20 e 30 pessoas, segundo Edivaldo Oliveira, de 58 anos, dono do local. “Agora, triplicou ou mais. Hoje são 200 pessoas que fazem uma fila quilométrica. Estamos com dificuldade para atender e a gente está se esforçando ao máximo. Mas é muita gente mesmo”, conta. O que a fome do nosso povo e a enorme fila atrás dessa doação nos mostram mas nós custamos e teimamos em entender é: Como que o Estado que têm mais bois que pessoas e é o maior exportador de carne do mundo, faz a sua própria população passar fome? Não precisa se dar ao luxo de responder, se trata apenas de uma pergunta retórica. Afinal, nós sabemos bem que a resposta é que o que realmente importa é lucro em cima de lucro, ou você acha que os barões do agronegócio irão se importar com pessoas passando fome em um bairro periférico da capital? É claro que não!!! Segundo dados de 2020, Mato Grosso faturou com a exportação de carne, US$ 1,63 bilhão de dólares, cerca de 8 bilhões de reais. Só que como bem sabemos todo esse dinheiro sequer chega ou volta como benefício para o povo que mais precisa. Outra fato curioso é que o Estado possui o maior rebanho bovino do país, com mais de 30 milhões de cabeças, isso significa que o número de bois e vacas são quase 9 vezes maior que o número de pessoas que moram no estado, que têm aproximadamente 3.526 milhões de habitantes. Isso dá o número de 100 bois para cada pessoa de Mato Grosso, seja ela criança, jovem, adulto ou idoso. Em resumo, o agronegócio não interrompeu sua marcha avante ao cofre cheio e nem mesmo o desespero de quem aguarda numa fila por um “ossinho” mostrou-se capaz de sensibilizar seus operadores. Por sinal, é coincidência que a doação de ossos bovinos tenha ocorrido em Cuiabá. A capital mato-grossense é o coração e o corpo do agronegócio brasileiro, onde se espalham os hectares a perder de vista dos monocultivos agrícolas, as indústrias processadoras de grãos e proteína animal e os depósitos das tradings. Podemos dizer que aqui jaz o território da riqueza e da miséria, não necessariamente nessa ordem. Mas não é possível que os barões façam uma campanha em massa para a doação de alimentos para as pessoas mais carentes do estado. O que é realmente possível é um dos empresários mais ricos de Mato Grosso e do Brasil fazer um doação de R$ 1 milhão de reais para um clube de futebol para ser possível que um dos jogadores possa entrar em campo. A fome perto disso, realmente, não é quase nada. Mas o que muitos devem saber é que a fome não começou na pandemia, ela já assola o Brasil há muito tempo, infelizmente, mas se agravou com o governo Bolsonaro, com a retirada de auxílios para a população, com o desemprego, a falta de oportunidades e a toda a falta de uma gestão humana na pandemia. Segundo pesquisa realizada entre outubro e dezembro do ano passado, cerca de 19 milhões de pessoas que passam ou passaram fome durante a pandemia do coronavírus no Brasil. Os dados também mostram que mais de 116 milhões de pessoas conviveram com algum grau de fome no período. Isso significa que mais da metade dos domicílios brasileiros sofreu algum tipo de privação. Segundo o estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), o índice exato de famílias nessa situação chegou a 55,2%. O nosso mandato têm dito que a fome é um problema crônico do Brasil e que iria se agravar com o governo desumanizado do Bolsonaro, mas nós torcíamos para estarmos errado, coisa que não aconteceu. Em 2020, elaboramos muitas proposições destinadas para aquelas populações que estavam e seguem mais vulneráveis na pandemia, como encaminhamentos para o governo do estado pedindo a doação de cesta básica aos professores interinos até ser resolvida a contratação deles, a criação do projeto de lei que fornece recursos para a venda de alimentos de pequenos (as) agricultores (as) familiares e distribuí-los à população de baixa renda, hospitais públicos e aos asilos matogrossenses, em casos de emergência ou calamidade e garantir condições de abastecimento, e a composição de um conjunto de medidas para garantir à alimentação adequada, do combate à fome, proteção aos pequenos produtores, controle ao desperdício de alimentos e preservação ambiental. A conclusão que chegamos, infelizmente, é de que o aumento da fome no Brasil está mais acelerado nos últimos anos. Entre 2018 e 2020 a alta foi de 27,6% ao ano. O triplo em relação entre aos anos de 2013 e 2018, quando o ritmo não passava de 8%. Mas o alerta que temos passado durante todo o nosso mandato para esse problema não é de agora. O aceleração do empobrecimento da população tem de ser dito aos quatro cantos, enquanto os milionários tem comemorado cada vez mais as cifras de suas safras recorde. Toda essa fome que estamos vendo as pessoas passarem não é ao acaso. Tudo é aliado ao desmonte de instituições promovido pelo governo, à devastação ambiental e ao agravamento das mudanças climáticas, o cenário faz vítimas principalmente entre as populações mais vulneráveis e não é fruto apenas da crise do coronavírus.
Via | Assessoria Valdir Barranco

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