Especialistas afirmam que este já é o pior desastre da história para os corais brasileiros, porque atingiu os recifes num momento em que se recuperavam de um branqueamento (processo que leva à morte) sem precedentes, causado pela elevação da temperatura do mar. Importantes para o turismo, os recifes de corais são fundamentais para a atividade pesqueira, pois numerosas espécies de peixes, crustáceos e moluscos precisam deles para se reproduzir.

“Nunca houve um ano tão terrível para os corais do Brasil quanto este. Tivemos um branqueamento recorde de corais em maio e junho, com mortalidade de até 90%, no caso de uma espécie importante. Agora, o óleo atinge os corais nordestinos num momento em que eles começavam a se recuperar”, destaca Gustavo Duarte, pesquisador do AquaRio e do Laboratório de Ecologia Microbiana e Molecular (LEMM) da UFRJ, onde são desenvolvidos estudos de vanguarda sobre corais.

Paraísos maculados 

Carneiros fica no norte da Costa dos Corais, entre Alagoas e Pernambuco, a segunda maior barreira de recifes de corais do mundo. Com cerca de 150 quilômetros, ela só é menor do que a Grande Barreira, na Austrália.

Também junto à fronteira com Alagoas, uma enorme mancha de óleo foi avistada no mar, sobre recifes, em São José da Coroa Grande. O óleo voltou a atingir ontem Pernambuco e Alagoas, onde chegou à praia de Maragogi.

Ninguém sabe dizer ainda quantos recifes coralinos foram afetados, já que as manchas se espalham por 187 municípios de nove estados e mais de 2.200 quilômetros de litoral.

Mas Barbara Pinheiro, do Laboratório de Recifes de Corais e Mudanças Globais da Universidade Federal da Bahia, diz que, além da Costa dos Corais, foram atingidos recifes no Pontal do Peba (foz do São Francisco, Alagoas), na Praia do Forte e na Ilha de Itaparica, na Bahia. Cientistas dizem que levará anos até que os danos possam ser bem avaliados.

Raquel Peixoto, que coordena as pesquisas no LEMM e no AquaRio, explica que o óleo afeta o metabolismo e a reprodução dos corais e das algas que vivem em simbiose com eles e lhes dão cor e alimento. É a morte das algas que causa o branqueamento e, em consequência, a destruição.

Um estudo inédito do LEMM revelou que mais de 90% dos corais da espécie Millepora alcicornis, uma das mais importantes construtoras de recifes no Brasil, morreram neste ano. Um coral de 50 cm pode levar 20 anos até se recuperar. Outras espécies também foram afetadas pelo branqueamento, entre elas o coral-cérebro, que só existe no Brasil e cujo período de reprodução começará quatro dias antes da próxima lua nova, no dia 28.

“Recifes atingidos por óleo são como florestas que pegaram fogo, a recuperação leva décadas”, diz ela.

O biólogo marinho Clemente Coelho Júnior, do Instituto BiomaBrasil e da Universidade de Pernambuco (UPE), diz que a situação é muito preocupante:

“Ainda não sabemos o quanto dos recifes foram comprometidos pelo óleo. Ele também entrou nos mangues de rios da região. Não entendemos até agora porque o governo federal não decretou emergência”, lamenta ele, que acompanha o desastre desde o início.

Fonte | O Globo