Com bênção do pai, Gabeu canta sobre ‘amor rural’ de dois homens em 1ª música. Ele fala ao G1 sobre homofobia no gênero e opina: o sertanejo gay é tendência?
“Por quanto tempo mais vamos amar no escuro?”
A pergunta em “Amor rural”, música de estreia de Gabeu (filho de Solimões, da dupla com Rionegro), traduz o sentimento do cantor ao lançar sua carreira. Gay também se afunda na sofrência e adora uma moda de viola. Por quanto tempo mais o sertanejo vai esconder esse sentimento?
O artista de 21 anos, então, cunhou o termo “pocnejo” – a palavra “poc” faz referência a um gay afeminado.
“É o sertanejo, bebe das mesmas fontes. Mas as questões são outras: ele fala da vivência de um garoto gay.”
Na letra que escreveu com o namorado, Gabeu clama: “Vamos assumir o nosso amor rural / Sai desse armário e vem pro meu curral”.
Solimões, cuja fama de paizão já é conhecida na internet, deu a bênção. “Ele se espantou com a ousadia, mas elogiou, disse que a letra era muito bem pensada, inteligente. E me deu dicas na hora de gravar”, conta.
O cantor, que cresceu ouvindo as músicas do pai, de Chitãozinho e Xororó e da cantora country canadense Shania Twain, compõe desde os 12 anos, mas costumava escrever em inglês e com influência de pop internacional.
“Durante muito tempo, neguei o sertanejo por não me enxergar nesse meio, nas questões abordadas nas músicas, que eram muito distantes do que eu vivo e sou.”
“Fui amadurecendo e me perguntei: por que não tem gente falando sobre nossas questões no sertanejo? No pop tem, no rap tem… Hoje, tenho recebido mensagens de garotos gays do interior, que cresceram ouvindo sertanejo e nunca se sentiram representados.”
Ele diz que, na convivência com outros artistas do gênero, a homofobia aparece de forma sutil – “por eu ser filho de um deles”. Gabeu explica:
“Por causa do meu pai, o meu tratamento é diferente do de outros gays. As coisas são mais disfarçadas. Entendo o privilégio que tenho, mas isso não quer dizer que eu não percebo [a homofobia].”
Mesmo achando “tudo novidade”, o cantor já sabe como lidar com haters. “É algo a ser trabalhado diariamente, para não deixar esse tipo de coisa te fazer desistir ou parar de acreditar no próprio trabalho.”
Depois do ‘feminejo’…
Gabeu não é o primeiro a incluir o universo LGBT no sertanejo. No início desse ano, a drag queen Reddy Allor lançou “Tira o olho”, um arrochanejo bem mais próximo de Gusttavo Lima que de Chitãozinho e Xororó.
Já o filho de Solimões incorporou sem medo a influência do pai. “O meu som é mais puxado para o raiz”, define.
“Peguei dois extremos: o sertanejo raiz e o fato de eu ser um garoto gay afeminado, que as pessoas nunca imaginariam cantando esse gênero.”
E, depois da explosão do “feminejo” de Marília Mendonça, Maiara e Maraísa e outras, seria o “pocnejo” a próxima tendência?
“Acho que pode crescer sim. Observo muito a carreira da Pabllo Vittar. Depois que ela estourou, muitas outras drag queens começaram a cantar, se sentiram encorajadas. Espero causar algo nesse sentido”, diz. As pocs estão na torcida.
Fonte | G1
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