Quando começou a questionar seus hábitos de consumo, há cinco anos, a jornalista e blogueira Marcela Rodrigues mirou com olhos críticos o desodorante tradicional, daqueles que a gente compra em farmácia. Tão trivial na rotina de homens e mulheres, o item se tornou o novo vilão da beleza e quiçá da natureza.
Isso porque os antitranspirantes da grande indústria, (que tem esse nome porque, além de prevenir mau odores, também impedem a transpiração) têm uma série de componentes não muito bem vistos nesses novos tempos, em que pensamos na saúde de forma global. Um deles é o parabeno, conservante que tem sido abolido de vários produtos por seu alto poder alergênico.
— A substância pode causar irritações e alergias e, segundo muitos estudos, age também como um disruptor endócrino. Pode mexer, por exemplo, com a fertilidade e até no funcionamento da tireoide — explica a dermatologista Maria Clara Couto, sócia do e-commerce Use Orgânico.
Na lista de ingredientes dos desodorantes tradicionais, é comum aparecerem sais de alumínio, os mais eficazes agentes antitranspirantes, e um antisséptico chamado triclosan, que é usado, inclusive, em diversos outros produtos.
— O FDA (o equivalente nos Estados Unidos da nossa Agência de Vigilância Sanitária) tem reavaliado a segurança e eficácia do uso do triclosan, apesar de não existirem estudos conclusivos sobre os malefícios — diz a farmacêutica Paula Cavalcanti, da farmácia A Fórmula. — Mas entre todos esses ingredientes, na literatura, você não encontra um consenso. Eu costumo dizer que, no caso de um produto que é usado diariamente, por que não minimizar as substâncias controversas?
Se a preocupação com a saúde guia tantas escolhas, a questão ambiental também deve nortear decisões. E não só porque algumas das substâncias, como o parabeno, são derivadas do vilão dos vilões entre os poluentes, o petróleo. É preciso ficar atento para o que está bem à frente do nosso nariz: a embalagem.
O biólogo Mario Moscatelli lembra que não basta procurar apenas por ingredientes naturais, é necessário pensar também nas embalagens que os contêm.
Da esquerda para direita: Rosa Mosqueta (R$ 65,90), da Weleda; Kristall-Deo (R$ 95), da Alva; Ser+ (R$ 50,74), da Souvie; e Spray Melaleuca & Toranja (R$ 22,99), da Boni Natural Foto: Divulgação
— Além da preocupação válida com os produtos químicos, existe também a questão do recipiente. O consumidor precisa procurar por biodegrabilidade. Quando vou limpar determinada lagoa ou rio, vejo muito desodorante vazio — diz Mario.
O autoconhecimento é fundamental para quem quer fazer a transição do produto tradicional para o natural. Afinal, é bastante complicado encontrar, nesses tipos de fórmula, antitranspirantes tão potentes quanto os sais de alumínio de que tanta gente quer se livrar. Ou seja, suar será inevitável; entender como as coisas funcionam no corpo também.
A blogueira Marcela Rodrigues, por exemplo, diz que hoje consegue perceber as alterações que a ingestão de álcool ou de gordura provocam embaixo dos seus braços.
— Há dias em que eu não tenho odor algum. Em outros, sim. Não que o desodorante natural seja ineficiente, o meu corpo é que envia um sinal diferente — diz Marcela.
E aí, vai encarar?
FAÇA EM CASA
Desodorante natural em creme
Ingredientes
2 colheres de sopa cheias de óleo de coco orgânico
1 colher de sopa de manteiga de karité
1/2 colher de sopa de bicarbonato de sódio
5 gotas de vitamina
3 gotas de óleo essencial de melaleuca
3 gotas de óleo essencial de lavanda
1/2 colher de chá de farinha de araruta (se estiver empelotada, passe numa peneira).
Modo de fazer
Derreta, em banho-maria, o óleo de coco e a manteiga de karité. Desligue o fogo e adicione a farinha de araruta, mexendo bem. Adicione o bicarbonato e misture até formar uma textura homogênea. Adicione os óleos essenciais e mexa bem. Tampe e deixe em uma superfície lisa até solidificar. Pode levar à geladeira.
Modo de usar
Aplique nas axilas devidamente higienizadas e secas com as mãos limpas.
Validade
Pode durar de um a dois meses, dependendo da validade de cada ingrediente usado. Marcela Rodrigues, da Naturalíssima, aconselha observar possíveis alterações de cor e cheiro. Se sentir alguma reação, suspenda o uso.
Fonte | O Globo
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