Filho aponta descaso no atendimento que teria levado à morte da mãe no Hospital do Rio

Filho aponta descaso no atendimento que teria levado à morte da mãe no Hospital do Rio

Irene Bento, de 54 anos, foi rejeitada na unidade na tarde de sábado (28). Ela foi levada para a UPA em frente, mas o quadro se agravou e ela teve de voltar ao CTI, onde acabou morrendo.

Uma mulher morreu horas depois de ser rejeitada em um hospital público no Rio. O filho de Irene de Jesus Bento, de 54 anos, desesperado, denunciou problemas no atendimento no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte do Rio. Os médicos teriam dito que o estado dela não era grave e que deveria procurar outra unidade de saúde.

Irene foi levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro e horas depois teve de ser transferida de ambulância de volta para o Hospital Getúlio Vargas, onde acabou morrendo. A Secretaria Estadual de Saúde afirmou que vai abrir uma sindicância para apurar o caso.

Na tarde de sábado (28), por volta das 14h, o filho dela, Rangel Marques, foi chamado por outros parentes para levar a mãe, que estava com dificuldades de locomoção, para a Emergência do hospital.

“Numa situação de desespero, comecei a gravar porque já não estava aguentando mais. Eu peguei ela nos braços dentro de casa e levei. Sinto culpa, tentando fazer por ela, mas não consegui”, lembrou o filho.

“Briguei, briguei, briguei. A médica dizendo: ‘vou te prender’, mas socorrer que é bom, ninguém fez nada”, emendou Rangel.

Como foi o incidente

Assim que chegaram à unidade, os filhos colocaram Irene numa cadeira de rodas. Depois de meia hora sem nenhum tipo de atendimento, Rangel resolveu percorrer o hospital com o celular na mão, mostrando o que os profissionais de saúde estavam fazendo, já que nenhum paciente era chamado para ser atendido.

As imagens mostram o filho da paciente entrando no consultório, pedindo socorro, mas encontrou uma médica mexendo no celular, junto com outros enfermeiros. Ele perguntou a ela o porquê de não chamar nenhum paciente. A médica disse que era necessário aguardar, que necessitava de uma ficha com o nome do paciente e que só depois disso poderia iniciar a consulta.

Irritado, Rangel a qustionou se estava usando o WhatsApp em vez de trabalhar. Ela se irritou e disse que estava lendo artigos médicos.

Após o vídeo, Rangel destacou que a mãe não foi atendida por nenhum médico, apenas por uma enfermeira que fazia a triagem de classificação de risco. Ela teria apenas aferido a pressão de sua mãe, disse que o caso não seria grave e o orientou que ela fosse levada para a UPA em frente.

“Aqui a gente não atende caso que não seja grave”, teria informado a profissional de saúde para o filho da paciente.

Com a mãe nos braços, Rangel atravessou a rua e foi para a UPA, onde chegou por volta de 15h30. Lá, Irene teve a pressão aferida novamente, esperou por atendimento, e foi internada na Sala Amarela, destinada a pacientes com casos de média complexidade.

Em menos de duas horas, por volta de 17h, a insuficiência respiratória de Irene se agravou. Ela foi levada para a Sala Vermelha, para os casos mais graves. Por volta das 22h, os médicos informaram que ela tinha sofrido duas paradas cardíacas e deveria ser transferida para um hospital e indicaram o próprio Getúlio Vargas, que teria negado o atendimento anteriormente.

Rangel contou que, dentro da ambulância, os médicos iniciaram uma massagem cardíaca e internaram a mãe dele no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). Cerca de uma hora depois, por volta de 23h, os médicos informaram a morte de Irene.

Para a família, ela foi vítima do descaso e da negligência. O filho acredita que se Irene poderia estar viva se tivesse recebido o atendimento adequado quando chegou ao hospital.

Ela foi enterrada em Miraí, em Minas Gerais, e deixou sete filhos. A mais nova tem apenas 11 anos.

“Minha avó tem 92 anos, no enterro, deitou em cima do caixão e perguntou: por que vocês deixaram fazer isso com ela? Ela estava nos meus braços e nada pude fazer. Só quero justiça para não acontecer com outra pessoa”, desabafou.

“Não é dinheiro, não é nada. Quero justiça. A nossa família é unida e graças a Deus ninguém precisa de dinheiro de governo, não”, disse Rangel.

O filho lamentou que ninguém do hospital tenha ligado para oferecer ao menos um psicólogo para a irmã caçula. O caso foi registrado na 38ª DP (Brás de Pina).

A Secretaria Estadual de Saúde informou que vai abrir uma sindicância para apurar o caso. A assessoria explicou que o atendimento como um todo precisa ser apurado e não apenas o comportamento da médica que aparece no vídeo. O órgão destacou que a situação é muito grave e todos os profissionais que não agiram corretamente serão responsabilizados.

Fonte | G1

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