Um retrato de Jair Bolsonaro como racista, homofóbico e candidato à Presidência, a miséria da situação carcerária no Brasil e o passado da Volkswagen na ditadura militar estiveram entre os destaques da semana.
Die Welt – O Messias da direita, 02/01/2018
A frase que transformou Jair Messias Bolsonaro, 62 anos, como alvo do ódio da esquerda brasileira é hoje lendária: “Não te estupro porque você não merece”, disse numa confrontação acalorada com a deputada Maria do Rosário, do esquerdista Partido dos Trabalhadores (PT), em 2003.
Bolsonaro chama repetidamente a atenção com declarações racistas e homofóbicas, é considerado adepto da tortura e do antigo regime militar brasileiro. Devido a seus destemperos verbais, por diversas vezes ele foi condenado a multas, recebe também muita crítica e repúdio dos meios de comunicação clássicos. Mas, nas redes sociais, ele se consagrou como o político mais popular do país.
Mais de 5 milhões de pessoas seguem o ex-paraquedista no Twitter e Facebook. Nenhum outro político no Brasil tem tamanha legião de adeptos. Agora ele visa o topo: Bolsonaro conta entre os maiores favoritos para as eleições presidenciais de 2018.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Mortos em rebelião no presídio, 02/01/2018
Com mais de 700 mil presos, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. No entanto as penitenciárias são construídas para um máximo de 370 mil detentos. Já por volta da virada do ano 2016/2017 houve lutas brutais pela liderança em diversos presídios, mais de 120 presos foram mortos.
O estopim das rebeliões foi a expansão da quadrilha de São Paulo Primeiro Comando da Capital (PCC), que cada vez mais também assume o controle de instituições em outros estados, além de controlar grande parte do narcotráfico no Brasil. Seu mais importante concorrente é o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro. Estima-se que as duas quadrilhas também estejam por trás das lutas da segunda-feira em Goiás.
Frankfurter Allgemeine Zeitung – Tortura na bancada de trabalho, 28/12/2017
Lúcio Bellentani se lembra exatamente do dia e da hora em que sua carreira como construtor de ferramentas na Volkswagen do Brasil em São Bernardo do Campo chegou a um brusco fim, após quase oito anos. Era 28 de julho de 1972, por volta de 23h30.
“Eu estava junto à bancada de trabalho quando de repente senti o cano de uma pistola automática nas costas”, conta. “Então eles me colocaram algemas e me levaram para as dependências do serviço de segurança da Volkswagen. Ali começou logo a tortura: agentes do Dops me espancaram, me deram socos e tapas. E isso diante dos olhos do chefe e de vários funcionários da segurança. Eles queriam saber de mim quem mais havia na Volkswagen.”
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Bellentani se filiara em 1964 ao Partido Comunista. Na fábrica de São Bernardo do Campo, ele organizava o trabalho dos colaboradores secretos do partido, também ativos no movimento sindicalista. “Na época, a base partidária era formada por umas 250 pessoas”, conta Bellentani hoje. Ele não traiu nenhum daqueles comunistas “que mais havia” na empresa, apesar dos sofrimentos da tortura, assegura.
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A colaboração do serviço de segurança com a polícia política já começara em 1969 [segundo o estudo Volkswagen do Brasil na ditadura militar brasileira de 1964 a 1985, do historiador Christopher Kopper]. A Volkswagen queria assegurar para si um ambiente de mercado favorável.
“O controle estatal do desenvolvimento salarial e dos sindicatos mantinham os salários num nível mais baixo do que numa democracia pluralista”, escreve Kooper. Além disso, a correspondência entre a sucursal no Brasil e a diretoria em Wolfsburg mostra, “até 1979, uma aprovação irrestrita ao governo militar” no Brasil. Só nos últimos cinco anos da ditadura a empresa se distanciou cautelosamente.
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[Bellentani] exige pedidos pessoais de desculpas e indenizações para as vítimas. Até o momento a Volkswagen não planeja nenhum desses passos, mas diz não querer se fechar a um diálogo com as vítimas.
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